Depois de um pequeno interregno, voltamos à história que é a minha vida, como eu me lembro dela e a entendo.
O ponto de exclamação do título serve para mostrar o quão excitante será a história.
Passada a primária, foi necessário mudar para outra escola, com novas crianças de costumes tão diferentes dos nossos. Pessoas de freguesias vizinhas, de quem apenas tínhamos ouvido falar. Isto levou a que a original separação que existia entre as crianças de FZJ se desvanece-se, havendo um maior sentido de entreajuda e defesa, perante este novo e bizarro inimigo.
Com este novo sentido social, novas actividades foram surgindo e as que existiam foram ganhando complexidade. Por exemplo “jogar à bola”, passou a ser um desporto em que participava toda a turma, invés de apenas os 4 da minha rua, o que levou a que o nome dessa actividade mudasse para Futebol.
Era importante mantermo-nos em forma, a pancada entre turmas era frequente. Por isso disfarçávamos o nosso treino sobre a forma de divertidas brincadeiras, para que os professores não nos viessem impedir de treinar. Um dos jogos mais frequentes era o mata. Nada que não houvesse nas outras escolas, bem sei, mas o nosso era diferente. Para já só podíamos jogar a bola com os pés... uma bola de futebol. Não havia os típicos três passes entre jogadores antes de se poder “matar” alguém, era sempre a disparar. E a única altura que o jogador era morto, era quando a bola ia acima da cintura. Mas isto não chegava, a dor de levar com uma bola de capão, na cara ou na barriga, não era suficiente, para além de que não corríamos muito. Tínhamos de treinar mais! Por isso adicionamos mais uma característica ao jogo.
Como o campo era grande e nós ocupávamos uma porção pequena dele, decidimos passar a usar toda a sua dimensão. No início do jogo escolheríamos um poste, ou árvore, o que estivesse mais longe de nós, e quando alguém apanhasse com a bola teria de correr até esse poste. Durante essa corrida os amigos eram livres de encher o “morto” de porrada. Cachaços, pontapés, rasteiras, tudo era permitido, desde que fosse conseguida a resistência à dor que pretendíamos. Nesta corrida também eram treinadas tácticas de evasão e de interceptação. Normalmente o gajo que corria mais depressa ia para a frente impedir que o “morto” chegasse ao poste e assim podermos bater-lhe mais um pouco. Este jogo infundia-nos noções de caça e fuga, pelo que era o que jogávamos mais.
Esquema do Mata:
Havia outros, que também gostávamos de jogar, como o Garrafão, a Roda, a Parede, a Garrafa, o Túnel (para minha surpresa voltei a passar por este na faculdade, pensei que tivesse ficado na infância), etc. Todos estes desportos colectivos tinham como principal objectivo dar porrada nos colegas.
Também tínhamos outras actividades com um cariz mais social, que motivassem a criação de laços. Por exemplo, quando alguém fazia anos era preparada toda uma série de festejos para comemorar esse dia. Mal chegávamos à escola o aniversariante saia disparado do autocarro e os outros iam atrás dele para o “levar à fonte”. Ir à fonte consistia em quatro pessoas agarrarem no aniversariante e colocarem-no de cu num dos bebedouros da escola, enquanto um quinto elemento carregava para sair água. Quando estava bem molhado, íamos para as aulas. Isto era de manhã quando fazia mais frio.
À tarde o aniversariante ia ao poste. Suponho que este não seja necessário explicar, já que é um clássico do nosso sistema de ensino. Mais lá para o fim da tarde, quando o tempo arrefecia, levávamos o aniversariante para a pequena estufa da escola, atirávamo-lo lá para dentro e batíamos nas paredes cheias de água ressudada pelas plantas. Eram dias bem alegres!
*o titulo é a única coisa que resta de um post que tentaria imitar a escrita da Laranja Mecânica