... nunca é uma palavra que não existe no dicionário do Brain, sendo que até existe, mas existe apenas ao abrigo da seguinte definição:
nuncaadv.1. Palavra que não existe no dicionário do Brain.Isto porque o Brain é... enfim: deixem-me falar-vos um muito do que é o Brain, porque falar um pouco dele seria dele fazer pouco.
O Brain é tão pioneiro que não inventou a roda: inventou o acto de inventar a roda.
O Brain nunca está atrás numa corrida. Está é, quanto muito, prestes a dar-vos uma volta de avanço.
Aos três anos, o Brain construiu o seu primeiro BattleMech para invadir Espanha, mas como a máquina de guerra era feita apenas de cartão e de canas do quintal da sua avó chegou apenas a Mérida antes de ser dominado pela polícia espanhola.
E o Brain era tão ninja na altura pré-Revolução dos Cravos que ele não empurrou Salazar da cadeira: ele
era a própria cadeira de lona. Ele simplesmente se desviou para o lado quando o agora antigo estadista se ia a sentar.
E o próprio jogo "Cadillacs and Dinosaurs" foi baseado numas férias de Verão do Brain, quando ele e os seus amigos Jack, Hannah, Mustapha e Mess decidiram viajar de Cadillac até à Damaia antes de esta ser povoada por pretos e brancos com a mania que são pretos.
E o comum mortal pode afiançar que "
mas na Damaia não há dinossauros".
Uma vez que eu não dirijo a palavra ao comum mortal, pois uma vez fui jantar com ele e ele veio com aquela conversa do "vamos rachar a conta a meias" e eu não queria pois o gajo comeu sobremesa e eu não e foi logo daquelas de três euros e meio da Carte D'Or e eu acabei a pagar mais um euro e setenta e cinco do que me era exigido, vocês podem passar, por mim, a palavra a ele de que não há dinossauros
agora, que naquela altura, e até o Brain lhes limpar o sebo a todos ao pontapé e ao rotativo, aquilo infestava a Damaia que nem seringas num encontro anónimo de ex-agarrados à coca.
E se o Aristóteles é o pai da lógica, o Brain é, sem dúvida, o seu padrinho de baptismo.
Aquele que lhe mete mais uma moedinha para andar no Pato Donald que anda para a frente e para trás no mesmo mecânico sítio.
Que lhe dá dinheiro às secretas para ela comprar "roupa de marca", de acordo com ela, "roupa à puta", de acordo com o pai dela.
Que nas férias grandes a leva lá para a sua casa ao pé da costa e lhe diz "
Não quero cá outros abstractivos do raciocínio em casa" apenas para ir tomar um café à rua e regressar para apanhar a lógica aos beijos e aos amassos com o senso comum no sofá da sala.
E o Brain pode não ser o pai da lógica, mas é o feliz e contemplado pai de um anagrama chamado Brian.
Nasceu com dois quilos setecentas e cinquenta e é conhecido por participar em séries de televisão como, por exemplo, "Family Guy".
E o Brain não se limita a preencher a existência com irrefutáveis ensinamentos imortais e perenes verdades absolutas: não.
O Brain exerce o seu direito à omnisapiência com dogmas talhados na própria pedra que Deus, em tempos, utilizou para talhar toda a Torá e uma gravura inacreditavelmente realista de Adão e Eva a jogarem à macaca com o fruto proibido.
Foi, até e inclusive, um bocado dessa pedra que o Brain - e não Deus - deu a Moisés assim como quem dá uma moeda a um cachopo ansioso por ir comprar um rajá, com o aviso de "
Toma lá e não gastes tudo em Mandamentos".
E vinquem bem estas minhas palavras na vossa memória.
Vinquem, mas mais do que vincar estes meros vocábulos, vinquem o que eles transmitem, pois a sabedoria aqui contida remete àquele que, um dia, se livrará do preconceito e do julgamento para se dedicar ao Bem Maior, quebrará as barreiras simbolizadas pelas fronteiras, unificará linguagens e culturas e povos e nações e estas encabeçará na marcha pelas ruas e avenidas do novo e único e unificado país com gloriosos cânticos de "Noli manere, manere in memoria" para com tudo o que de nocivo e de humanamente errado nós, raça humana, deixámos para trás.
Isto, claro está, se a mãe dele deixar, que ele ainda só tem quatro anos.