Histórias da minha aldeia

Provavelmente nunca diriam, mas por trás deste ar jovem e sofisticado, de escrita polida, existe um rapazinho que atirava bostas secas de vaca aos amigos. Passei toda a minha vida na aldeia, rodeado de vacas, ovelhas (que uma vez me atacaram, mas isso fica para outro dia), bouças, e falta de canalização. E é este último assunto que me leva a escrever hoje:

Devido à seca deste ano, a falta de água foi algo que deu que falar em FJS (abreviatura do nome da minha aldeia/freguesia, para que ninguém saiba onde moro). Toda a gente comentava, não há água, o Demónio deve andar a coçar o tecto dos infernos e secou os poços. As pessoas no desespero não se lavavam, não cozinhavam, consumindo os alimentos ainda crus. Os cães comiam os restos dos corpos humanos ressequidos abandonados na sargeta, na vã procura de algum líquido (sou mesmo exagerado :p).
Um dos aldeões, fartou-se e resolveu tomar medidas. Pediu uma licença para fazer um furo* e chamou as máquinas. Quando as máquinas chegaram um outro aldeão, seu vizinho, começou a gritar, o furo iria roubar toda a água que ainda existia no seu poço e era melhor que este parasse as máquinas se não se quisesse incomodar. O primeiro aldeão, cagou completamente para o aldeão barulhento (o aldeão barulhento foi candidato por um dos partidos à junta de freguesia... lol). O aldeão barulhento, chamou a GNR de VCD (mais uma abreviatura, desta vez do concelho, onde se encontra a minha freguesia) para que esta tomasse conta da ocorrência, e castigasse o aldeão prevaricador. Como a construção de furos de água era assunto da GNR de Santo Tirso (que nome idiota para um santo), estes tiveram que a chamar.
Quando a GNR chegou ao local, pediu ao aldeão prevaricador documentos comprovativos da legalidade do furo. Estes foram prontamente mostrados pelo aldeão, a GNR disse para que continuasse com o furo, pois estava tudo na legalidade, e tivesse cuidado para que os senhores das máquinas não lhe roubassem metros. Este foi apenas um dos muitos episódios de construção de furos em FJS, que deram azo a situações divertidas, cuja comicidade me é impossível passar para texto, devido a minha falta de jeito para escrever.

Se este fosse um mundo justo, o aldeão barulhento teria pago uma multa, não por ter gasto tempo e recursos a uma entidade do estado, mas apenas por ser burro e como ele, muitos mais deviam pagar. Com a quantidade que existe de burros, o défice passava a ser assunto do passado.

*Furos Artesianos, são semelhantes a poços, mas muito mais compridos, e muito menos largos. Mais informações procurem na internet, que é para isso que ela serve (não... não é so para o messenger :D)